A temporariedade das amizades

A temporariedade das amizades
Provavelmente você também já teve vários amigos inseparáveis temporários. Num curso que fiz no exterior, tive um vínculo muito intenso com uma grande amiga temporária. Vivíamos como gêmeas, depois ficamos sem contato. Apesar disso, gosto muito das memórias dessa parceria, sei que aprendemos e nos divertimos muito mais por estarmos juntas boa parte do tempo. Tive outros “melhores amigos” que duraram um mês, alguns dias, uma viagem, a época em que fomos colegas, uma temporada de veraneio.

Será que fiz desses vínculos uma avaliação equívoca, considerando-os amizades, quando eram apenas algo passageiro? Talvez caberia usar outras denominações: parceiro, colega, companheiro; quem sabe deveria ser considerada amizade verdadeira apenas aquela que vence o teste do tempo. O tempo é de fato o grande desafio de um vínculo afetivo. Isso também serve para os amores, pois a amizade não deixa de ser uma forma de amar. A diferença, além do sexo, é que o amor é mais preso às idealizações que fazemos do outro,  enquanto a tolerância é o sentimento preponderante das grandes amizades.

É preciso tolerar o fato de que as pessoas vão mudando e nem sempre na direção que lhes indicaríamos. Elas fazem escolhas que reprovamos, criam-se problemas que consideramos dispensáveis, mostram-se egoístas, despertam-nos sentimentos pouco nobres, como inveja ou pena. Amigos de longa jornada seguem adiante perdoando, acolhendo. O amor, mais intenso, nem sempre é tão generoso. Tal como os amores, amizades têm um acervo de apelidos, olhares significativos, pratos prediletos, gestos imitados, presentes trocados, vexames mantidos em segredo, músicas, devoções e até inimigos em comum.

Algumas, raras, caminham juntas para um futuro que vai alterando os protagonistas, mas os traços em comum são preservados como uma senha para entrar um no outro. Os vínculos fraternos de tiro curto têm tudo isso, mas se esvanecem quando desaparece o cenário ou a atividade compartilhada. Nos reencontros apenas ficamos pensando: “Puxa, como gostei dessa pes soa”. Infelizmente, nas paixonites passageiras não cultivamos a mesma leveza: o amor desfeito parece ter nos usurpado, enquanto a amizade sempre deixa um valor agregado. Os amigos partilham-se cautelosamente, enquanto os amantes se entregam intempestivamente, dando mais do que possuem. Amigo é um companheiro de percurso.

Os fiéis, embora poucos, parceiros na longa jornada de uma vida inteira são imprescindíveis. Dizem que os dedos de uma mão são suficientes para enumerar os amigos de verdade de um adulto. Já as amizades passageiras podem, mesmo assim, ser profundas e verdadeiras, portanto não há por que considerá-las indignas desse nome. Se amizade e amor têm suas diferenças, em ambos não se deve julgar o valor pela duração. São experiências de entrega, das quais sempre saímos amadurecidos. Toda forma de amizade também vale a pena.


DIANA CORSO
Autora do livro "Tomo Conta do Mundo" – Confissões de uma Psicanalista.

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